Sou de São José dos
Campos, interior de São Paulo, e aqui (como em todos os lugares) ouvimos muitos
causos, lendas… A que vou contar, chega a dar arrepio até no mais incrédulo.
Diz a história que
pessoa ruim, que pratica muita maldade, e tem coração cheio de ódio, quando
morre, nem céu ou inferno o querem… diz que até a terra rejeita, e assim o
sujeito ruim vira Corpo Seco.
Antigamente, no
tempo em que as famílias ricas tomavam conta de boa parte da cidade, havia uma
família cujo filho era lindo, charmoso e muito envolvente. O que lhe sobrava em
beleza, multiplicava por 100 e vinha em forma de ruindade: maltratava as moças
com quem saía, perseguia quem o atrapalhasse, arrumava confusão com todos, há
quem diga que até batia na mãe.
Pois bem, aconteceu
do tal rapaz iludir mais uma moça, esta engravidou. O pai da moça iludida
(responsável por uma das famílias de grande poder na cidade), revoltado com a
desonra causada pelo rapaz, exigiu que se casasse com a filha. E é aí que a
história começa.
O rapaz se negou, e
foi assassinado. Foi enterrado no grandioso jazigo da família, localizado no
final do cemitério municipal. Depois do enterro, todas as noites ouviam-se
gritos vindos do fundo cemitério, mas ninguém tinha coragem de investigar se
eram mesmos gritos, de onde realmente vinham e muito menos de chegar perto de
onde o rapaz foi enterrado.
Foi então que o pai
do rapaz ofereceu metade de sua riqueza para que alguém fosse averiguar o que
tinha na sepultura do filho, e mudá-lo de lugar. A família achou melhor levá-lo
a uma fazenda antiga que tinham no bairro mais afastado do centro urbano.
Um corajoso
aceitou, e foi fazer o serviço. Chegando lá na sepultura, percebeu uma mão pra
fora, e assim que se aproximou para ver melhor, um corpo sequíssimo saiu da
cova e grudou em suas costas.
Minha gente, a
partir do momento que um corpo-seco gruda em alguém, a situação fica bem tensa:
tem de se obedecer tudo que o coisa ruim grudado pede, senão é uma azucrinação
só na cabeça.
No momento que o
corpo-seco se apossou dele, o corajoso lembrou-se de histórias que a avó
contava, e que lhe ensinará como se livrar de um corpo seco. Primeiro passo era
encontrar uma árvore. Sem pestanejar, foi (junto o bicho nas costas, claro) até
a fazenda da família, e deu de cara com uma alameda linda de mangueiras.
Escolheu uma, encostou-se a ela, e rezou “Crendospadre” três vezes. Assim que
sentiu o alívio de ter se separado do coisa-ruim, saiu em passos silenciosos,
sem olhar para trás, para não correr o risco de ser hipnotizado pela
assombração e ter que viver com ele nas costas. Passou pela porteira da fazenda
e correu para nunca mais voltar.
Até hoje essa
fazenda está abandonada, pois dizem ser mal assombrada. Ela fica no distrito de
Eugênio de Melo, em São José dos Campos-SP. Existem visitas monitoradas a
mangueira do corpo seco, mas todos os registros em vídeo ou foto são apagados
misteriosamente. Algumas pessoas têm fotos da árvore, e por coincidência ou
não, elas têm porque foram sozinhas. Talvez o tal corpo seco achasse que seria
boa oportunidade de se apropriar de alguém e continuar vagando por aí.
Enfim, para aqueles
que ainda não acreditam, minha grande amiga Rita Elisa Seda,
fotógrafa, jornalista, escritora e a pessoa que me contou essa história, fez
registros da árvore do corpo seco. Dá só uma olhadinha:
Nenhum comentário:
Postar um comentário